«"Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1, 28). É com estas palavras do Arcângelo Gabriel que nos dirigimos à Virgem Maria várias vezes por dia. Repetimo-las hoje com alegria fervorosa, na solenidade da Imaculada Conceição, recordando o dia 8 de Dezembro de 1854, quando o Beato Pio IX proclamou este admirável dogma da fé católica» (JPII 8/12/2004), na Basílica do Vaticano.
Depois
de «desejada por tantos santos, solicitada por tantos séculos, intentada por
tantos pontífices» (SDCD), «alegre, satisfeito como um pai carinhoso quando se
vê cercado dos filhos queridos de sua alma, rodeado por 54 cardeais, um
patriarca, 42 arcebispos, 100 bispos, 300 prelados inferiores, muitos milhares
de sacerdotes e religiosos de todos os ritos, regiões, ordens e trajes, e por
mais de 50 mil fiéis de todas as classes e nações, Pio IX, a 8 de Dezembro de
1854, na atitude própria de doutor supremo encarregado de interpretar a divina
revelação e de pronunciar os oráculos da fé, principia com voz grave, sonora e majestosa,
a leitura do decreto que define a Imaculada Conceição da Virgem.
Mas,
ao chegar à passagem em que se referia à Imaculada Conceição, essa voz
enternece-se, às lágrimas assoma-lhe aos olhos e quando pronuncia as palavras decisivas:
“Definimos, decretamos e confirmamos”, a emoção e o pranto embargam-lhe a
palavra e vê-se obrigado a suspender, para enxugar as lágrimas que pelo rosto
lhe deslizam. Eloquência sublime, eloquência dum grande pai, pregando bem alto
este privilégio da melhor das mães. Contudo, fez um esforço supremo para
dominar a emoção e continuou a leitura com a inteireza da voz e autoridade próprias
do juiz da fé. Seu coração eleva-se aos lábios e conhece-se bem que falam ao
mesmo tempo o pai da cristandade, o filho afetuoso de Maria e o supremo pastor
da Igreja, aliando, dum modo sublime, o oráculo do doutor da verdade com os
sentimentos dum coração ternamente dedicado à Virgem.
Oh!
Como tudo isto era belo e agradável ao Senhor, como era imponente aquela
assembleia inumerável, em que batia um só coração para amar a Maria, em que
falava uma só boca para saudar a Maria, coroada com o diadema da Imaculada
Conceição» (SDCD).
Assim
declarou o Beato Papa Pio IX:
Por
isto, depois de na humildade e no jejum, dirigirmos sem interrupção as Nossas
preces particulares, e as públicas da Igreja, a Deus Pai, por meio de seu
Filho, a fim de que se dignasse de dirigir e sustentar a Nossa mente com a
virtude do Espírito Santo; depois de implorarmos com gemidos o Espírito
consolador; por sua inspiração, em honra da santa e indivisível Trindade, para
decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para
incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo,
dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa,
declaramos, pronunciamos e definimos: A doutrina que sustenta que a beatíssima
Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e
privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador
do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa
doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser acreditada firme e
inviolavelmente por todos os fiéis. Portanto, se alguém (que Deus não permita!)
deliberadamente entende de pensar diversamente de quanto por Nós foi definido,
conheça e saiba que está condenado pelo seu próprio juízo, que naufragou na fé,
que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso, incorreu por si, “ipso
facto”, nas penas estabelecidas pelas leis contra aquele que ousa manifestar
oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros que pensa
no seu coração.
"Cheia
de graça", "kexaritwmenh": é com este apelativo que,
segundo o grego original do Evangelho de Lucas, o Anjo se dirige a Maria. Este
é o nome com que Deus, através do seu mensageiro, desejou qualificar a Virgem.
Foi desta maneira que Ele a considerou e viu desde sempre, ab aeterno.
O Pai escolheu-a em Cristo, antes da criação do mundo, para que fosse santa e
imaculada na sua presença. Efetivamente, preservada imune de toda a mancha de
pecado original, a "nova Eva" beneficiou de maneira singular da obra
de Cristo como perfeitíssimo Mediador e Salvador. A primeira a ser redimida
pelo seu Filho, partícipe na plenitude da sua santidade, Ela já é aquilo que
toda a Igreja deseja e espera ser. É o ícone escatológico da Igreja. (JPII 8/12/2004)
Ó Maria concebida sem pecado: rogai
por nós que recorremos a vós!
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A
Gloriosa e sempre Virgem Maria foi abençoada por Deus que a encheu
da sua Graça em ordem às maravilhas que n´Ela, em favor do resgate de
toda a humanidade caída na ruína do pecado de Adão, quis por sua inefável e
benigna vontade o Criador iniciar.
O
homem que fora induzido ao pecado — contra o propósito da divina misericórdia —
pela astúcia e pela malícia do demônio não devia mais perecer. Devia,
finalmente, ser resgatado pelo novo Adão, Messias prometido, Filho de Deus.
Em
ordem aos méritos futuros a alcançar pelo seu Filho, Deus preparou-lhe
uma Mãe da qual Ele encarnaria e na feliz plenitude dos tempos
nasceria. Essa Mãe, humana criatura, mereceu de Deus a mais singular
benevolência e amor. Por isto, cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os
Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes,
tirados do tesouro da sua Divindade.
«Era
de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre
adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da
mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga
serpente; porquanto a ela Deus Pai dispusera dar seu Filho
Unigênito — gerado do seu seio, igual a si mesmo e amado como a si
mesmo — de modo tal que Ele fosse, por natureza, Filho único e
comum de Deus Pai e da Virgem».
«A
Igreja Católica, que, instruída pelo Espírito de Deus, é "a coluna e a
base da verdade", sempre considerou como divinamente revelada e como contida
no depósito da celeste revelação esta doutrina acerca da inocência original da
augusta Virgem, doutrina que está tão perfeitamente em harmonia com a sua
maravilhosa santidade, e com a sua eminente dignidade de Mãe de Deus;
e, como tal, nunca cessou de explica-la, ensina-la e favorece-la cada dia mais,
de muitos modos e com atos solenes».
Crê,
professa e celebra a Igreja Católica e todos os que dignamente fazem uso do
nome de católicos que a beatíssima Virgem, desde o primeiro instante da
sua criação, por uma especial graça e privilégio de Deus, por virtude
da graça proveniente do Espírito Santo, em vista dos méritos de Jesus
Cristo, seu Filho e Redentor do gênero humano, foi preservada imune de toda
mancha do pecado original e remida de maneira mais sublime.
A
conceição de Maria deve ser venerada como singular, maravilhosa,
diferentíssima da de todos os outros homens, e plenamente santa. Não era
conveniente que aquele vaso de eleição fosse ofuscado pelo defeito que ofusca
os outros, porque ele foi diferentíssimo dos outros, e, se com eles teve de
comum a natureza, não teve de comum a culpa; antes, convinha que o Unigênito,
assim como teve nos céus um Pai exaltado pelos Serafins como três vezes santo,
assim também tivesse na terra uma Mãe à qual nunca faltasse o esplendor da
santidade. Na realidade, na conceição imaculada da Virgem Maria «Deus
anunciou os remédios preparados pela sua misericórdia para a regeneração dos
homens, confundiu a audácia da serpente enganadora e reergueu
admiravelmente as esperanças do gênero humano, dizendo: "Porei
inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela"». «Em
consequência disto, assim como Cristo, Mediador entre Deus e os homens,
assumindo a natureza humana destruiu o decreto de condenação que havia
contra nós, cravando-o triunfalmente na Cruz, assim também a Santíssima Virgem,
unida com Ele por um laço estreitíssimo e indissolvível, foi, conjuntamente com
Ele e por meio d’Ele, a eterna inimiga da venenosa serpente, e esmagou-lhe
a cabeça com seu pé virginal».
Maria
é a nova arca de Noé que «construída por ordem de Deus, ficou completamente
salva e ilesa do naufrágio comum». Maria é a nova escada de Jacob pela
qual os céus e a terra se unem, os anjos podem descer até nós, nós podemos
subir até Deus, Deus pode encarnar e habitar entre nós e nós somos
convidados a entrar na morada eterna de Deus. Maria é a nova sarça inflamada
pelo fogo de Deus que nela arde mas não a consume nem faz sofrer dano algum,
antes continua a ser verde e florida. Ela é a rosa sempre fresca. Maria é o
novo e augusto templo de Deus que refulgente dos divinos esplendores está cheio
da glória do Senhor.
Colocada,
tanto quanto é possível a uma criatura, como a mais próxima de Deus, ela tornou-se superior a todos os louvores
dos homens e dos Anjos. Por isso a louvamos: Bendita sois vós entre as
mulheres ó Piíssima Virgem Maria concebida sem a mancha do pecado! Em
Eva «por uma mulher veio a morte», por ti, Maria, «por uma mulher veio a vida;
por Eva a desgraça, por Maria a salvação; aquela corrompida seguiu o sedutor,
esta integra deu à luz o Salvador». Belo lírio és entre espinhos, plantado por
Deus e por Ele defendido de todas as insídias da serpente venenosa. Ajuda-nos a
escapar dos dardos inflamados do maligno e a permanecer na graça de Deus.
Ó
Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!

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