“O curador
ferido, O ministério na sociedade contemporânea”
De Henri
J. M. Nouwen
Coletânea de excertos do livro
realizada por João Miguel Pereira
“Ele é
chamado a ser o curador ferido, aquele que deve cuidar das suas próprias
feridas, mas estar simultaneamente preparado para curar as feridas dos outros”.
Durante a leitura do livro, que me foi recomendado pelo meu diretor
espiritual, fui sublinhando alguns pensamentos do autor. Tomei, depois de
saborear a leitura, a iniciativa de reunir alguns desses sublinhados sob
tópicos que livremente criei. Espero conseguir ser fiel ao espírito do autor e
aguçar a curiosidade dos leitores para irem ao encontro deste livro
enriquecedor.
+ Vivemos porque somos esperados
"Nenhum homem pode continuar a
viver se ninguém o espera. Quem regressa de uma longa e difícil viagem procura
alguém que esteja à sua espera na estação ou no aeroporto. Toda a gente quer
contar a sua história e partilhar os seus momentos de dor e de exaltação com
alguém que tenha ficado em casa, à espera do seu regresso".
"Há milhares de pessoas que
cometem suicídio porque não têm ninguém à espera delas amanhã. Não há motivos
para viver se não existe ninguém por quem viver".
"O homem consegue manter a sua
sanidade mental e manter-se vivo desde que haja pelo menos uma pessoa à sua
espera".
"'Eu estarei à sua espera'
ultrapassa a morte e é a expressão mais profunda do facto de que a fé e a
esperança podem passar, mas que o amor permanecerá para sempre. 'Eu estarei à
sua espera' é uma expressão de solidariedade que quebra as cadeias da
morte".
+ Relação de ajuda
"A tragédia do ministério cristão
é que muitas das pessoas profundamente necessitadas de ajuda, que procuram uns
ouvidos atentos, uma palavra de alento, um abraço misericordioso, uma mão
firme, um sorriso terno, ou mesmo uma confissão hesitante da incapacidade de
fazer mais, descobrem nos seus ministros homens distantes que não querem
queimar as mãos. São incapazes ou mostram-se relutantes em exprimir os seus
sentimentos de afeto, raiva, hostilidade ou compreensão amiga. O paradoxo está
no facto de que aqueles que querem ser 'para todos' se descobrem muitas vezes
como incapazes de se aproximarem seja de quem for".
"Ninguém consegue ajudar alguém
sem se envolver, sem entrar com todo o seu ser na situação dolorosa, sem correr
o risco de se ferir, magoar ou até mesmo se destruir nesse processo. O
princípio e o fim de toda a orientação cristã é dar a vida pelos outros".
"O verdadeiro martírio significa
um testemunho que começa com o desejo de chorar com os que choram, de rir com
os que riem e de pôr à disposição dos outros as próprias experiências de dor e
alegria, como fontes de esclarecimento e compreensão".
"A grande ilusão da orientação é
pensar que um homem pode ser conduzido para fora do deserto por alguém que
nunca lá esteve".
“Porque uma compreensão profunda da
sua própria dor possibilita-lhe transformar a sua fraqueza em força e oferecer
a sua própria experiência como fonte de cura àqueles que andam muitas vezes
perdidos na escuridão dos seus próprios sofrimentos incompreendidos”.
“Em quase todas as funções
sacerdotais, tais como a conversão pastoral, a pregação, o ensino e a liturgia,
o guia espiritual tenta ajudar as pessoas a reconhecerem o trabalho de Deus em
si próprias”.
+ O desejo nunca saciável
“Ignoramos o que já sabemos com um
conhecimento intuitivo e profundamente instalado – que nenhum amor ou amizade,
nenhum abraço íntimo ou beijo terno, nenhuma comunidade, comuna ou
coletividade, nenhum homem ou mulher, poderá jamais satisfazer o nosso desejo
de sermos libertos da nossa condição solitária. Esta verdade é de tal modo
desconcertante e penosa que estamos mais rapidamente dispostos a entregarmo-nos
às nossas fantasias do que a encarar a verdade da nossa existência. Assim,
continuamos à espera de um dia encontrar o homem que compreenda realmente as
nossas experiências, a mulher que traga paz à nossa vida insatisfeita, o
emprego onde possamos realizar o nosso potencial, o livro que irá explicar tudo
e o lugar onde nos sintamos realmente em casa. Tais falsas esperanças levam-nos
a fazer exigências esgotantes e preparam-nos para a hostilidade amarga e
perigosa, quando começamos a perceber que nada nem ninguém é capaz de
satisfazer inteiramente as nossas expetativas absolutistas”.
+ O sacerdócio, lembrete da nossa finitude
“Um ministro não é um médico cuja
função primordial é tirar a dor. Pelo contrário, ele aprofunda a dor a um nível
em que possa ser partilhada. Quando alguém se dirige a um ministro com a sua
solidão, apenas pode esperar que essa solidão seja compreendida e sentida, de
modo a que não precise mais de fugir dela, mas a possa aceitar como expressão
essencial da sua condição humana”.
“Muitas pessoas sofrem por causa da
falsa suposição em que baseiam as suas vidas. Essa suposição é de que não
deveria haver nem medo nem solidão, nem confusão ou dúvida. Mas só se pode
lidar criativamente com estes sofrimentos quando eles são compreendidos como
feridas inerentes à nossa condição humana. Por conseguinte, o sacerdócio é um
serviço de grande confronto. Não permite que as pessoas vivam com ilusões de
imortalidade e totalidade. Relembra continuamente aos outros que são mortais e
fracos, mas também que a libertação começa com o reconhecimento dessa
condição”.
“Uma comunidade cristã é, por
conseguinte, uma comunidade curativa, não apenas porque as feridas são saradas
e os sofrimentos aliviados, mas porque as feridas e os sofrimentos se tornam em
janelas e ocasiões para ver com novos olhos”.
“A ferida, que agora nos provoca
sofrimento, nos será mais tarde revelada como o local onde Deus deu a conhecer
a sua nova criação”.
“É exatamente nas demandas comuns e
nos riscos partilhados que nascem ideias novas, que as novas visões se revelam
e que os novos caminhos se tornam visíveis”.
“A triste ironia é que o ministro, que
deseja tocar o âmago da vida dos homens, se encontra ele próprio na periferia,
muitas vezes implorando para ser admitido”. “[…] não somos levados muito a
sério quando está bom tempo”.
+ À procura da ovelha perdida
“Muitos depositarão a sua confiança
naquele que percorreu todo o caminho apenas para ir ao encontro de um deles. A
observação ´ele preocupa-se realmente connosco` é frequentes vezes ilustrada
por histórias que demonstram que esquecer muitos por um só é um sinal de
verdadeira orientação”.
“Poucas pessoas escutam um sermão
intencionalmente dirigido a todos, mas a maioria escuta com muita atenção as
palavras que brotam da preocupação com uns poucos”.
“O vazio do
passado e do futuro nunca podem ser preenchidos com palavras, mas apenas com a
presença de uma pessoa”.
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