A Paróquia de São Silvestre de Pai Penela, no Arciprestado do Alto Douro, vê, todos os anos, logo após a Solenidade da Imaculada Conceição, nascer, na sua Igreja Matriz, um belo e bem composto Presépio. Este ano são já 248 figuras, entre as quais se encontram velhinhos a ler ou transportar lenha, crianças pela mão das mães, pessoas simples pelos caminhos e montes. Há ainda uma forte representação das artes e profissões que preenchiam a vida da aldeia e que a construtora do Presépio, Elisa Machado, carinhosamente tenta recordar e homenagear: padeiros, ferreiros, tanoeiros, lavradores com vacas, peixeiros, tosquiadores de ovelhas, leiteiras, lenhadores, oleiros, vinhateiros, cavadores, apanhadores de azeitona, tarefas das mulheres no campo como tratadores de animais, vendedoras de fruta e hortaliça, talhantes.
Estive à conversa com a Elisa,
procurando descobrir os motivos que a levam todos os anos a construir este Presépio
e quais os sonhos que ela ainda quer concretizar.
Contava-me que, desde pequenina,
tem «paixão pelo Presépio da nossa Igreja» e que sempre esteve envolvida na sua
construção, ajudando os mais velhos. Quase sempre era feito ou terminado no dia
de consoada e, por isso, mesmo nos tempos em que foi emigrante, sempre colaborou
na construção. Partilhou comigo: «Na altura, até 2001, o nosso Presépio era
pequenino e com poucas imagens. As principais, que foram oferecidas em 1993
pelos meus tios e pai e, mesmo dessas, já nem todas existiam. Em 2001 regressei
de vez da Suíça. Passei a ser eu e as minhas tias a elaborar o Presépio, até
que passei a fazê-lo sozinha. Sempre tive vontade e prazer em o fazer crescer. Então,
todos os anos, ia comprando algumas peças novas. Sempre procurei acrescentar
figuras que pudessem retratar as gentes da minha terra, aqueles que ainda estão
e os que já partiram, fazendo assim uma homenagem a todos os que cuidaram da
nossa terra e Igreja antes de nós. De vez em quando, uma pessoa ou outra oferecia
uma imagem que eu sonhava acrescentar. Mas, a generalidade foi adquirida por
mim. Ao longo destes anos o nosso Presépio tem crescido cada vez mais e já
ocupa um quarto do corpo da nossa Igreja. Agora, acho que ficará por aqui. Uns
vivem o Natal com o embelezamento das suas casas, outros a fazer compras de Natal…
para mim o Natal só faz verdadeiro sentido construindo o nosso Presépio
paroquial. As minhas compras são para ele, porque nele revejo a fé que os que
passaram antes de mim tinham no Deus Menino».
Como quase todas as figuras
representam alguém da terra, pedi-lhe para me contar um pouco sobre o
significado ligado a alguma das figuras. Escolheu o matador de porcos que
representa o senhor Zé Esteves a quem recorda com carinho e saudade: «Este ano,
finalmente, tenho o prazer de ter representado no Presépio um grande amigo e
senhor. Era muito estimado na nossa terra e partiu para junto de Deus perto do Natal.
Ele tanto gostava de cantar nas nossas missas. Continuamos a ter a sensação de,
em cada dia de Natal, conseguirmos ouvir a sua voz a cantar connosco "do
varão nasceu a vara, da vara nasceu a flor, da flor nasceu Maria, de Maria o Redentor..."
[…] Neste presépio estão muitos sentimentos, muitas memórias, muitas saudades,
mas, acima de tudo, uma grande fé e esperança no Deus Menino que continua a
nascer para nós todos os anos. Ele nasce para nós todos os dias… é só preciso
abrir-Lhe as portas da gruta do nosso coração».
Finalmente, perguntei-lhe se
ainda gostava de incluir alguém no Presépio. Fiquei com a feliz ideia de que
ainda não desistiu de o enriquecer. São muitas as figuras que ainda quer
acrescentar: «Sim, quero acrescentar uma mulher a fazer o queijo, um resineiro,
um albardeiro, o barbeiro e algo sobre as malhadas dos cereais... Mas ainda não
vi em lado nenhum. Isto são os meus sonhos para completar as profissões e
tarefas que por cá se faziam». Se o(a) nosso(a) caro(a) leitor(a) conseguir
ajudar a concretizar este sonho, poderá deixar também a sua marca neste Presépio.
Um Presépio cheio de sentimentos e histórias que se cruzam com a história do
Deus que quis e quer cruzar a Sua história com a nossa.
Entrevista: João Pereira,
Sacerdote | Fotos: Marco Lopes
Todas as fotos temporariamente
disponíveis aqui: https://www.filemail.com/d/hnucmsbrxfdpjtg
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