SOCIEDADE DECENTE OU SOCIEDADE DOENTE?

Uma Reflexão do meu ilustre amigo Filósofo e Teólogo Doutor Pe. João António Pinheiro Teixeira que vem de encontro a alguns aspetos com os quais concordo e que espelho no meu artigo Sobre a Despenalização Legal da Eutanásia em Portugal.

Passo a citar:

《 1. Devíamos ser uma sociedade decente, mas estamos cada vez mais no limiar de uma sociedade doente.

Doente porque ancorada na conjuntura imediata e não nos valores perenes; doente porque deixou de pensar, de crer e de amar; doente porque cansada na mente e no coração.

2. Este «cansaço vital» é magistralmente tipificado por Xabier Pikaza: «O risco maior deste mundo é o cansaço da vida, que se mostra na necessidade de fármacos e drogas que se consomem e na quantidade de suicídios».

Já desaprendemos de «fruir a beleza, reconhecendo todos os dias o valor da vida e bendizendo a Deus por ela».

3. Não espanta, pois, que uma sociedade assim doente — em que, como alerta Anselmo Borges, o «homo sapiens» se transfigura em «homo demens» — promova mais a morte do que a qualificação da vida.

Que este paroxismo anti-vida receba cobertura política e enquadramento jurídico só revela até que ponto chegou a enfermidade de que padecemos.

4. Buscadores arfantes de uma felicidade consumista, nunca nos teremos sentido tão infelizes. 

Só que — avisa o Papa Francisco — a felicidade «não é algo que se compre». Sendo o homem imagem de um Deus-Amor, «a sua felicidade provém apenas de amar e deixar-se amar».

5. O problema é que nem sabemos o que é o amor (circunscrito, quase sempre, ao prazer libidinoso). Como poderemos então amar e deixarmo-nos amar?

Daí que o amor seja o que mais ouvimos e o que menos vemos. A «sklêrocardia» (dureza do coração) está a afectar a lucidez da própria inteligência.

6. Esquecemos que a inteligência não habita só no cérebro. Mais inteligente é sobretudo quem tem melhor coração. 

É por isso que Jesus propõe como modelo de inteligência os simples (cf. Mt 11, 25), os que costumam «ver» com o coração.

7. Uma sociedade será decente quando encorajar o bem-estar de toda a população, a começar pelos mais desprotegidos.

Infelizmente, não é o que acontece. É bem sabido como são (des)tratados muitos doentes e não poucos idosos.

8. Salta à vista que a «cultura do descarte» — tão agudamente denunciada pelo Papa Francisco — vai acelerando com uma frieza arrepiante.

A pressão ambiental é de tal ordem que muitos acabam por se resignar a aceitar para si o que é (obstinadamente) preceituado por outros.

9. Uma vez mais, a «morte medicamente assistida» (eufemismo utilizado para evitar «morte provocada» ou «eutanásia) subiu ao Parlamento.

E não faltou sequer uma porção de ironia. Os nossos representantes não se entenderam para tratar da vida dos cidadãos, no Orçamento Geral do Estado. Mas entenderam-se para viabilizar a antecipação da sua morte.

10. A vida humana já não é inviolável, como estipula a Constituição? 

A solução para o sofrimento é a eliminação do sofredor? Não será, antes, a presença e o afecto junto dos que sofrem? Se muitas solidões falassem… 》


Doutor Pe. João António Pinheiro Teixeira




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