XV
Domingo do Tempo Comum – Ano B
HOMILIA DA MISSA NOVA
A Liturgia da Palavra
deste XV domingo do Tempo Comum convida-nos a centrarmos em Deus toda a nossa
vida.
Todos nós, meus irmãos
e minhas irmãs, somos eleitos de Deus. Não só nós padres mas todos nós, a
assembleia dos batizados, o povo cristão.
E, «como eleitos de
Deus, santos e amados», devemos revestir-nos dos sentimentos que Deus, na carne
de Jesus Cristo, quis revestir o género humano.
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Deus quis dar-se a
conhecer, quis restabelecer amizade com a humanidade e quis mostrar aos
errantes a luz da verdade para poderem voltar ao bom caminho. Começou por um
pequeno grupo para finalmente chegar a todos. Começou com o Povo de Israel, pelos
profetas e pelos santos dos tempos antigos.
Mas, nestes tempos que
são os últimos – isto é, os tempos em que já está em marcha a plenitude da
criação, pois «agora somos filhos de Deus», mesmo que «ainda não se tenha
manifestado o que havemos de ser» – nestes tempos que são os últimos, Deus
falou-nos «por meio de seu Filho» o qual, para se dar a conhecer a todos os
povos e reunir as ovelhas dispersas pelo mundo até ao final dos tempos, enviou
o grupo dos Doze.
Enviou-os com a missão
de reunir aqueles que Ele escolheu, antes da criação do mundo, para serem
santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença.
Enviou os Doze a
libertarem os homens e as mulheres da escravidão do pecado, dos espíritos
impuros; a pregarem o arrependimento das más obras; a ungirem com óleo os
doentes; a curarem as feridas de uma humanidade afastada dos caminhos do seu
Criador e vítima das consequências do seu próprio pecado.
Os destinatários somos todos
nós: Foi a nós que Cristo enviou os Apóstolos! Foi por meio dos apóstolos -
atuando neles e nos Sacramentos – que Deus nos quis constituir em seus filhos
adotivos por Jesus Cristo, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de
sermos «um hino de louvor da sua glória». Para que livres da escravidão do
pecado e dos espíritos impuros; arrependimento das nossas más obras e ungidos
com o Espírito Santo, sejamos novas criaturas cujo viver, pensar e agir seja um
louvor contínuo ao nosso Deus.
Somos também enviados
para que o mundo conheça a Jesus Cristo, que um dia o Pai nos enviou.
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A liturgia da palavra
alerta-nos – com a figura do profeta Amós e com o envio dos Apóstolos – para a
necessidade do desprendimento dos bens, do dinheiro, do poder, dos títulos
sociais e dos currículos académicos.
Amós apresenta-se como
um homem livre. Ele não tem um currículo académico com o qual possa provar o
seu valor e competências, não tem um estatuto profissional para defender nem com
o qual se possa defender, não traz uma herança ou estatuto social que o faça
proeminente.
Amós apresenta-se
dizendo que «não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava
sicómoros».
Ele não traz um longo
currículo, nem títulos académicos, nem um estatuto social herdado de seus pais.
Nem sequer traz bens materiais, dinheiro ou poder. Ele apresenta-se como um
simples agricultor e pastor. E a sua única riqueza é a missão a que foi chamado
e o próprio Deus que o enviou.
Com isto, sublinha que
a missão que tem de profetizar não nasceu da sua própria vontade: foi o Senhor
que o tirou da guarda do rebanho e lhe disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de
Israel’.
A vocação de profetizar
– isto é, de ser a voz autorizada de Deus que fala ao seu povo – não é mérito
próprio, não nasce da vontade do profeta [nem dos apóstolos, nem dos bispos,
nem dos Padres]… nasce da vontade de Deus.
Tanto assim é que a
maioria dos profetas tentou fugir, suplicaram ao Senhor para que não lhes
pedisse tão dura e difícil missão.
Tanto assim é que,
quando Amós começou a pregar a Palavra do Senhor Deus, foi mandado embora, foi
mal recebido nomeadamente pelos nobres, ricos e poderosos e até pelo sacerdote
Amasias que se tinha deixado corromper, não obedecia a Deus mas era funcionário
do rei e dos poderes deste mundo.
«Vai-te daqui, vidente…
não continues a profetizar aqui». É esta a resposta que recebeu Amós, recebeu
Jesus, receberam os Apóstolos, recebemos tantas vezes nós Padres e recebemos todos
nós, cristãos, quando somos fiéis à vocação que Deus nos confiou e à mensagem
que Ele nos mandou anunciar.
Amasias dizia-se
sacerdote mas compactuava com as coisas que desagradam a Deus, não denunciava
os pecados e as injustiças dos homens e mulheres do seu tempo.
Amós, os outros
Profetas, Jesus, os Apóstolos e aqueles que ao longo da história foram fiéis à
vontade de Deus, foram incompreendidos, perseguidos, injuriados e maltratados.
Diz Bonifacio Fernández
(El Cristo del seguimiento) que "Uma Igreja seguidora do crucificado leva
as marcas do conflito e da perseguição. Leva as pegadas de sangue dos mártires.
[...] A perseguição é um sinal de autenticidade cristã. Longe de nos
escandalizar deveria fazer-nos sentir confirmados no caminho de Jesus".
Irmãos, não somos servos
do mundo nem dos soberanos. Nem sequer somos escravos da lei que tantas vezes é
injusta, desumana e oposta à vontade de Deus e à harmonia da criação. Muito
menos somos servos do pecado!
Não nos detenhamos
pelos bens que possuímos nem pelos cargos que desempenhamos. Não nos apeguemos
às coisas deste mundo, esquecendo-nos das coisas do Céu. Não nos deixemos
manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos nossos próprios interesses
pessoais.
Somos chamados a ser
como o Profeta Amós, como os Apóstolos e sobretudo como Jesus: Somos chamados a
ser anunciadores da vontade de Deus, denunciadores das injustiças, construtores
do bem, fazedores da caridade, cuidadores dos fracos, dos doentes, dos exilados
e desprezados da sociedade…
Somos convidados a
expulsar do mundo os sentimentos e as obras dos espíritos impuros (o ódio, a
arrogância, a ira, a violência, a inveja, a soberba, a luxúria, …), a exorcizar
esses mesmos sentimentos de nós mesmos para cada dia sermos melhores
testemunhas daquele que nos enviou, para que cada dia se manifeste mais aquilo
que já somos: filhos de Deus.
A centralidade das
nossas vidas, a nossa fidelidade e as nossas seguranças tem de ser depositadas
apenas em Deus, e o nosso coração deve estar voltado para o Céu, pois é lá que
está o nosso tesouro.
Bem-aventurados seremos
quando não nos ouvirem e nos fecharem os ouvidos do coração; nos injuriarem,
perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra nós, por causa da nossa
fidelidade a Jesus Cristo, à sua Palavra e à vontade de Deus.
Então sairemos. Não
responderemos com o mal. Amaremos os nossos inimigos, bendiremos os que vos
maldizem, faremos o bem aos que nos odeiam, e rezaremos pelos que nos maltratam
e nos perseguem; para mostrarmos que somos filhos do Pai que está nos céus.
Apenas sacudamos o pó
dos nossos pés para não levarmos connosco o mal que nos dirigiram.
Depois, exultemos e
alegremo-nos, porque será grande o nosso galardão nos céus; porque, antes de
nós, também assim perseguiram os profetas e os santos de Deus.
Assim seja.
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