Exultemos e alegremo-nos, porque será grande o nosso galardão nos céus!

 

Pe. João Miguel Pereira

XV Domingo do Tempo Comum – Ano B

HOMILIA DA MISSA NOVA

 

A Liturgia da Palavra deste XV domingo do Tempo Comum convida-nos a centrarmos em Deus toda a nossa vida.

Todos nós, meus irmãos e minhas irmãs, somos eleitos de Deus. Não só nós padres mas todos nós, a assembleia dos batizados, o povo cristão.

E, «como eleitos de Deus, santos e amados», devemos revestir-nos dos sentimentos que Deus, na carne de Jesus Cristo, quis revestir o género humano.

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Deus quis dar-se a conhecer, quis restabelecer amizade com a humanidade e quis mostrar aos errantes a luz da verdade para poderem voltar ao bom caminho. Começou por um pequeno grupo para finalmente chegar a todos. Começou com o Povo de Israel, pelos profetas e pelos santos dos tempos antigos.

Mas, nestes tempos que são os últimos – isto é, os tempos em que já está em marcha a plenitude da criação, pois «agora somos filhos de Deus», mesmo que «ainda não se tenha manifestado o que havemos de ser» – nestes tempos que são os últimos, Deus falou-nos «por meio de seu Filho» o qual, para se dar a conhecer a todos os povos e reunir as ovelhas dispersas pelo mundo até ao final dos tempos, enviou o grupo dos Doze.

Enviou-os com a missão de reunir aqueles que Ele escolheu, antes da criação do mundo, para serem santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença.

Enviou os Doze a libertarem os homens e as mulheres da escravidão do pecado, dos espíritos impuros; a pregarem o arrependimento das más obras; a ungirem com óleo os doentes; a curarem as feridas de uma humanidade afastada dos caminhos do seu Criador e vítima das consequências do seu próprio pecado.

Os destinatários somos todos nós: Foi a nós que Cristo enviou os Apóstolos! Foi por meio dos apóstolos - atuando neles e nos Sacramentos – que Deus nos quis constituir em seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos «um hino de louvor da sua glória». Para que livres da escravidão do pecado e dos espíritos impuros; arrependimento das nossas más obras e ungidos com o Espírito Santo, sejamos novas criaturas cujo viver, pensar e agir seja um louvor contínuo ao nosso Deus.

Somos também enviados para que o mundo conheça a Jesus Cristo, que um dia o Pai nos enviou.

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A liturgia da palavra alerta-nos – com a figura do profeta Amós e com o envio dos Apóstolos – para a necessidade do desprendimento dos bens, do dinheiro, do poder, dos títulos sociais e dos currículos académicos.

Amós apresenta-se como um homem livre. Ele não tem um currículo académico com o qual possa provar o seu valor e competências, não tem um estatuto profissional para defender nem com o qual se possa defender, não traz uma herança ou estatuto social que o faça proeminente.

Amós apresenta-se dizendo que «não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros».

Ele não traz um longo currículo, nem títulos académicos, nem um estatuto social herdado de seus pais. Nem sequer traz bens materiais, dinheiro ou poder. Ele apresenta-se como um simples agricultor e pastor. E a sua única riqueza é a missão a que foi chamado e o próprio Deus que o enviou.

Com isto, sublinha que a missão que tem de profetizar não nasceu da sua própria vontade: foi o Senhor que o tirou da guarda do rebanho e lhe disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’.

A vocação de profetizar – isto é, de ser a voz autorizada de Deus que fala ao seu povo – não é mérito próprio, não nasce da vontade do profeta [nem dos apóstolos, nem dos bispos, nem dos Padres]… nasce da vontade de Deus.

Tanto assim é que a maioria dos profetas tentou fugir, suplicaram ao Senhor para que não lhes pedisse tão dura e difícil missão.

Tanto assim é que, quando Amós começou a pregar a Palavra do Senhor Deus, foi mandado embora, foi mal recebido nomeadamente pelos nobres, ricos e poderosos e até pelo sacerdote Amasias que se tinha deixado corromper, não obedecia a Deus mas era funcionário do rei e dos poderes deste mundo.

«Vai-te daqui, vidente… não continues a profetizar aqui». É esta a resposta que recebeu Amós, recebeu Jesus, receberam os Apóstolos, recebemos tantas vezes nós Padres e recebemos todos nós, cristãos, quando somos fiéis à vocação que Deus nos confiou e à mensagem que Ele nos mandou anunciar.

Amasias dizia-se sacerdote mas compactuava com as coisas que desagradam a Deus, não denunciava os pecados e as injustiças dos homens e mulheres do seu tempo.

Amós, os outros Profetas, Jesus, os Apóstolos e aqueles que ao longo da história foram fiéis à vontade de Deus, foram incompreendidos, perseguidos, injuriados e maltratados.

Diz Bonifacio Fernández (El Cristo del seguimiento) que "Uma Igreja seguidora do crucificado leva as marcas do conflito e da perseguição. Leva as pegadas de sangue dos mártires. [...] A perseguição é um sinal de autenticidade cristã. Longe de nos escandalizar deveria fazer-nos sentir confirmados no caminho de Jesus".

Irmãos, não somos servos do mundo nem dos soberanos. Nem sequer somos escravos da lei que tantas vezes é injusta, desumana e oposta à vontade de Deus e à harmonia da criação. Muito menos somos servos do pecado!

Não nos detenhamos pelos bens que possuímos nem pelos cargos que desempenhamos. Não nos apeguemos às coisas deste mundo, esquecendo-nos das coisas do Céu. Não nos deixemos manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos nossos próprios interesses pessoais.

Somos chamados a ser como o Profeta Amós, como os Apóstolos e sobretudo como Jesus: Somos chamados a ser anunciadores da vontade de Deus, denunciadores das injustiças, construtores do bem, fazedores da caridade, cuidadores dos fracos, dos doentes, dos exilados e desprezados da sociedade…

Somos convidados a expulsar do mundo os sentimentos e as obras dos espíritos impuros (o ódio, a arrogância, a ira, a violência, a inveja, a soberba, a luxúria, …), a exorcizar esses mesmos sentimentos de nós mesmos para cada dia sermos melhores testemunhas daquele que nos enviou, para que cada dia se manifeste mais aquilo que já somos: filhos de Deus.

A centralidade das nossas vidas, a nossa fidelidade e as nossas seguranças tem de ser depositadas apenas em Deus, e o nosso coração deve estar voltado para o Céu, pois é lá que está o nosso tesouro.

Bem-aventurados seremos quando não nos ouvirem e nos fecharem os ouvidos do coração; nos injuriarem, perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra nós, por causa da nossa fidelidade a Jesus Cristo, à sua Palavra e à vontade de Deus.

Então sairemos. Não responderemos com o mal. Amaremos os nossos inimigos, bendiremos os que vos maldizem, faremos o bem aos que nos odeiam, e rezaremos pelos que nos maltratam e nos perseguem; para mostrarmos que somos filhos do Pai que está nos céus.

Apenas sacudamos o pó dos nossos pés para não levarmos connosco o mal que nos dirigiram.

Depois, exultemos e alegremo-nos, porque será grande o nosso galardão nos céus; porque, antes de nós, também assim perseguiram os profetas e os santos de Deus.

Assim seja.







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