Como refletimos no passado domingo, o
ano litúrgico está organizado com um peregrinar pela vida de Jesus.
Inicia com o tempo do advento,
onde ressoa dos nossos ouvidos aos nossos corações a promessa de que o nosso
Salvador, o Messias esperado, “há-de-vir”.
Passamos pelo Natal quando Ele
realmente se apresenta para habitar no meio de nós, de forma velada, o
todo-poderoso na fragilidade de um menino, o Senhor de todas as coisas nascido
num berço pobre.
Avançamos pela fuga da sagrada
família para o Egito para proteger o Deus menino dos poderes tiranos, egoístas
e totalitários.
Vemos Jesus crescer, retirar-se no
deserto para encontrar-se intimamente com
Deus-Pai, receber o batismo, iniciar a pregação do Evangelho, escolher os
primeiros discípulos, anunciar e operar as maravilhas de Deus que vem salvar,
até chegarmos à contemplação do ápice do seu testemunho de amor pela
humanidade: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”
(Jo 13,1) até à morte e morte de Cruz (Fil 2, 8).
Celebramos a sua Páscoa, quando Jesus
ultrapassa (passa por cima: Pessach) os atrozes sofrimentos que lhe
foram infligidos, ultrapassa a morte e ressuscita para a vida que “não tem
ocaso” (não tem fim).
Vemo-lo partilhar com os seus
discípulos a alegria do Ressuscitado, que os anima a continuarem a missão por
Ele inaugurada de anunciar “a salvação aos pobres,
a libertação aos oprimidos e a alegria aos que sofrem”.
Finalmente, Jesus ascende ao Céu enviando
em seu lugar o Espirito Santo para que depois daquele Pentecostes a Igreja perpetue
a sua presença no mundo, ensine e pratique o Evangelho e batize todos os
homens que a ele aderirem, em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo,
tornando-os filhos de Deus.
O ano litúrgico termina com a solenidade
de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que hoje celebramos. É a oportunidade para contemplarmos o
final dos tempos, a meta e a esperança da nossa fé, a morada celeste e a
vida eterna: quando Cristo, sentado num trono de luz e de glória, for tudo e
em todos (Col 3, 11).
Irmãos e irmãs, reparemos que Jesus
respondeu a Pilatos que o seu Reino não é deste mundo. De outro modo os seus
guardas lutariam para o libertar e defender, para defender a sua honra,
para alargar o seu império.
Mas Jesus não quer conquistar terras,
cidades, países… Jesus quer conquistar apenas os corações. Ele nunca
teve pretensões políticas: depois da multiplicação dos pães, «sabendo
que viriam buscá-lO para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o
monte» (João 6,1-15). Não sou eu que o digo, é um evangelista com o meu
nome, João, mas que escreveu isto milhares da anos antes de eu nascer!
Cuidado com as nossa pretensões! Ás vezes para defendermos a honra de Deus queremos
ir à força, queremos impor aquilo que nós achamos que é a religião perfeita…
quando Jesus, o mais perfeito revelador do Pai, não usou essa lógica da força e
da imposição.
Nós queremos sentar Jesus num trono
que Ele não ambicionou. E o pior é que estamos iludidos: os nossos tronos, aqueles feitos de ouro, de
ferro e de madeira, não servem para receber o nosso Deus.
Irmãos e irmãs, se queremos dar a Jesus
Cristo realmente um trono digno de o receber e o único onde Ele pretendeu
reinar, preparemos os nossos corações pois é nesse trono que Jesus se quer
sentar para reinar. Não, Ele não quer um trono de pedra, de madeira, de
ferro ou de ouro! Ele quer reinar num trono de carne! Deitemos fora o coração
de pedra e aceitemos receber das mãos de Deus um coração de carne (Ez 36, 26)!
Se queremos realmente proclamar Cristo
como Rei, façamos dele realmente Rei… não de territórios, não de correntes
políticas, não de ideologias! Façamos d´Ele Rei dos nossos corações, Rei das
nossas vidas!
Cada um tem de permitir que Cristo
seja Rei na sua própria vida e não querer impô-lo como rei da vida dos outros… porque isso nem Ele mesmo o ambicionou… Ele
não se impôs, propôs-se… só assim se expressa a lógica do amor: dando liberdade,
propondo sempre o bem e a verdade, mas não impondo nada.
Irmãos: às vezes podemos cair na lógica
de Pedro ou dos reis terrenos: tirar as nossas espadas e começar a desferir
golpes por todo o lado. As vezes pegamos nas espadas para defender a honra
de Deus, para fazer desaparecer os inimigos de Deus, para impor a vontade de
Deus, para alargar o reino de Deus…
“Guarda a espada!” (João 18, 11) disse Jesus a Pedro e di-lo
hoje a nós. Não é pelo fio da espada que funciona a lógica de Deus! A lógica
de Deus funciona somente pelo fio do amor que conquista o coração de tantos
homens e mulheres, de tantas raças, cores de pele, nacionalidades e culturas,
sãos e doentes, novos e velhos, de diferentes orientações políticas, sexuais, ideológicas…
homens e mulheres, mais ou menos sábios, mais santos ou mais pecadores. É o fio
do amor de Deus quem os conquista!
E às vezes, porque não vemos Jesus
lutar pela força dos exércitos, pelo fio da espada, duvidámos e perguntamos: «Então,
Tu és Rei?».
Se te escandalizas com a lógica de
reinar de Jesus é porque ainda não «é por ti que dizes que Ele é Rei, foram
outros que to disseram» e tu não acreditaste.
É porque ainda não O conheces verdadeiramente e por isso não o consegues
compreender. É porque ainda não o deixaste sentar-se no trono do teu coração e
reinar na tua vida!
Sim, Ele é rei! Mas não um rei à moda
dos reis deste mundo: não nos quer dominar à força, não nos aprisiona com as
suas leis, não nos quer julgar com dureza, não nos cobra pesados tributos… Cristo
só é rei dos corações, do amor, do perdão, do serviço… por isso não é um rei segundo
a lógica deste mundo, o seu reino não é deste mundo porque os reis deste mundo
não são assim como Ele é.
Se queremos proclamar que Cristo é Rei então mostremo-nos como seu povo: como o reino de Cristo, fiel ao exemplo e à vontade do seu Senhor. Sejamos realmente um reino de sacerdotes e por Cristo, com Cristo e em Cristo, elevemos a Deus um louvor perene e perfeito com as nossas vidas: dedicando a nossa vontade, sentimentos, inteligência e coração ao Senhor que reina sobre nós e nos pede fidelidade à sua lei que não é outra senão a lei do amor.
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