Graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do
Senhor Jesus Cristo estejam convosco.
Neste tempo da oitava de natal, celebramos a
Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, para nós modelo de vida e
paradigma das virtudes familiares.
Foi-me pedido por algumas famílias que enviasse
uma mensagem de bênção para o novo ano que se aproxima. Decidi aceitar, tendo em vista o bem das
almas e a feliz oportunidade de levar a riqueza da Palavra de Deus até vossas
casas.
Inspirando-me na liturgia da palavra proposta
para a Festa da Sagrada Família de Nazaré, gostaria de sublinhar alguns aspetos
que desejo que nos sirvam a todos de inspiração para podermos gozar, nesta vida
as primícias e na vida futura a plenitude, das alegrias eternas.
O Livro de Ben-Sirá, escrito por volta de 180
a.C., que reúne a riqueza da sabedoria prática judaica, interpela-nos a honrar
os pais. Aliás, honrar pai e mãe é uma mitsvá expressa no quinto dos Dez
Mandamentos da Lei de Deus. Diz este livro sapiencial que “quem honra seu pai
obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe”.
Também o Salmo 127 (128) aponta que é feliz
aquele que teme o Senhor e anda nos seus caminhos, alcançará o merecido fruto
do trabalho das suas mãos e receberá o dom de uma família fecunda e numerosa.
Ter a Deus como centro da nossa vida não nos subtrai nada do que nos faz feliz.
Na verdade, Deus cumula de bens aos seus amigos e não deixa cair nenhum bem que
façamos no esquecimento.
Também o apóstolo São Paulo nos convida como cristãos,
eleitos de Deus, a revestirmo-nos de sentimentos de misericórdia, de bondade,
humildade, mansidão e paciência. São Paulo continua: “Esposas, sede submissas
aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e
não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque
isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não
caiam em desânimo.”
Esta passagem é, na minha convicta opinião, como
toda a Sagrada Escritura, riquíssima de significação e beleza, embora
infelizmente tantas vezes julgada como retrógrada e pretendida excluir por
algumas alas (aparentemente) progressistas.
Não podemos esquecer que foi escrita num
contexto de sociedade marcadamente patriarcal onde o peso do estatuto social
recai maioritariamente sobre a figura masculina, por vezes em detrimento da
figura feminina. Todavia, não podemos julgar o que foi escrito há quase dois
mil anos sem a justa contextualização e hermenêutica.
Primeiro que tudo, São Paulo sublinha a necessidade
dialógica. Não exige nada a uma das partes sem deixar de comprometer também a
outra. Aos pais exige que não exasperem os filhos, aos filhos que obedeçam aos
pais.
O apóstolo não diz apenas que as esposas têm de
ser submissas aos maridos. Ele exige reposta: que os maridos que amem as
esposas e não as tratem com aspereza. Noutra passagem, Paulo desenvolve:
“Maridos, amai as vossas esposas, como também Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela, para que a santificasse”.
De facto, diz a sabedoria popular que “fácil é
obedecer, difícil é mandar”, sobretudo quando se exige a quem manda que mande
com justiça, procurando em tudo o bem dos seus súbditos.
É natural à Igreja obedecer a Cristo, porque
sabe que em tudo Ele a amou e o que lhe ordena é porque a ama e quer o seu bem.
Paulo sublinha que o modo como os esposos hão-de
amar suas esposas encontra o seu fundamento e modelo no modo como Cristo amou a
Igreja: com um amor fiel, incondicional, gratuito, oblativo. Jesus “tendo amado
os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.
Até como? De que modo? Morrendo de amor e por
amor à Igreja! Quantos maridos estarão dispostos a morrer por amor e pelo bem
de suas esposas, para as salvar?
São Paulo, nestas citações que fizemos, pode parecer
machista. Mas, por outro lado, Paulo foi muito mais duro, rígido e exigente com
os esposos do que com as esposas. Ainda assim, na minha humilde opinião, sem
querer de modo algum adulterar as Sagradas Escrituras, se Paulo vivesse no
nosso contexto cultural não lhe custaria dizer: Maridos, sede submissos às
vossas esposas, como convém no Senhor. Esposas, amai os vossos maridos e não os
trateis com aspereza.
É essa forma de amor que São José espelha quando
avidado em sonhos do perigo que espreitava se levanta de noite, toma o Menino e
sua Mãe e parte, renunciando a si mesmo, ao seu conforto, percorrendo caminhos
de sacrifício… por amor, para salvaguardar o bem de sua esposa e de Jesus.
Neste novo ano que se aproxima, rogo a Deus que
cumule as vossas famílias com os dons da misericórdia, bondade, humildade,
mansidão e paciência! Que 2023 seja um ano da Graça e floresça no mundo a paz,
a solidariedade e a fraternidade entre os povos!
A bênção de Deus todo-poderoso,
Pai, Filho + e Espírito Santo,
desça sobre vós e permaneça para sempre.
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