Mensagem de Ano Novo` 2023

Graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.

Neste tempo da oitava de natal, celebramos a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, para nós modelo de vida e paradigma das virtudes familiares.

Foi-me pedido por algumas famílias que enviasse uma mensagem de bênção para o novo ano que se aproxima. Decidi aceitar, tendo em vista o bem das almas e a feliz oportunidade de levar a riqueza da Palavra de Deus até vossas casas.

Inspirando-me na liturgia da palavra proposta para a Festa da Sagrada Família de Nazaré, gostaria de sublinhar alguns aspetos que desejo que nos sirvam a todos de inspiração para podermos gozar, nesta vida as primícias e na vida futura a plenitude, das alegrias eternas.

O Livro de Ben-Sirá, escrito por volta de 180 a.C., que reúne a riqueza da sabedoria prática judaica, interpela-nos a honrar os pais. Aliás, honrar pai e mãe é uma mitsvá expressa no quinto dos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Diz este livro sapiencial que “quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe”.

Também o Salmo 127 (128) aponta que é feliz aquele que teme o Senhor e anda nos seus caminhos, alcançará o merecido fruto do trabalho das suas mãos e receberá o dom de uma família fecunda e numerosa. Ter a Deus como centro da nossa vida não nos subtrai nada do que nos faz feliz. Na verdade, Deus cumula de bens aos seus amigos e não deixa cair nenhum bem que façamos no esquecimento.

Também o apóstolo São Paulo nos convida como cristãos, eleitos de Deus, a revestirmo-nos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. São Paulo continua: “Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”

Esta passagem é, na minha convicta opinião, como toda a Sagrada Escritura, riquíssima de significação e beleza, embora infelizmente tantas vezes julgada como retrógrada e pretendida excluir por algumas alas (aparentemente) progressistas.

Não podemos esquecer que foi escrita num contexto de sociedade marcadamente patriarcal onde o peso do estatuto social recai maioritariamente sobre a figura masculina, por vezes em detrimento da figura feminina. Todavia, não podemos julgar o que foi escrito há quase dois mil anos sem a justa contextualização e hermenêutica.

Primeiro que tudo, São Paulo sublinha a necessidade dialógica. Não exige nada a uma das partes sem deixar de comprometer também a outra. Aos pais exige que não exasperem os filhos, aos filhos que obedeçam aos pais.

O apóstolo não diz apenas que as esposas têm de ser submissas aos maridos. Ele exige reposta: que os maridos que amem as esposas e não as tratem com aspereza. Noutra passagem, Paulo desenvolve: “Maridos, amai as vossas esposas, como também Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para que a santificasse”.

De facto, diz a sabedoria popular que “fácil é obedecer, difícil é mandar”, sobretudo quando se exige a quem manda que mande com justiça, procurando em tudo o bem dos seus súbditos.

É natural à Igreja obedecer a Cristo, porque sabe que em tudo Ele a amou e o que lhe ordena é porque a ama e quer o seu bem.

Paulo sublinha que o modo como os esposos hão-de amar suas esposas encontra o seu fundamento e modelo no modo como Cristo amou a Igreja: com um amor fiel, incondicional, gratuito, oblativo. Jesus “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.

Até como? De que modo? Morrendo de amor e por amor à Igreja! Quantos maridos estarão dispostos a morrer por amor e pelo bem de suas esposas, para as salvar?

São Paulo, nestas citações que fizemos, pode parecer machista. Mas, por outro lado, Paulo foi muito mais duro, rígido e exigente com os esposos do que com as esposas. Ainda assim, na minha humilde opinião, sem querer de modo algum adulterar as Sagradas Escrituras, se Paulo vivesse no nosso contexto cultural não lhe custaria dizer: Maridos, sede submissos às vossas esposas, como convém no Senhor. Esposas, amai os vossos maridos e não os trateis com aspereza.

É essa forma de amor que São José espelha quando avidado em sonhos do perigo que espreitava se levanta de noite, toma o Menino e sua Mãe e parte, renunciando a si mesmo, ao seu conforto, percorrendo caminhos de sacrifício… por amor, para salvaguardar o bem de sua esposa e de Jesus.

Neste novo ano que se aproxima, rogo a Deus que cumule as vossas famílias com os dons da misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência! Que 2023 seja um ano da Graça e floresça no mundo a paz, a solidariedade e a fraternidade entre os povos!

A bênção de Deus todo-poderoso,

Pai, Filho + e Espírito Santo,

desça sobre vós e permaneça para sempre.




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