Ao Senhor Divino Espírito Santo

 

«Ser batizado no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa, portanto, estar em união com Deus, partilhar da sua existência, ser mergulhado na sua própria vida».

(Card. Robert Sarah, Catecismo da Vida Espiritual)

 

Pregação em honra do Senhor Divino Espírito Santo, escrita por Pe. João Miguel Pereira (Poço do Canto, 28/05/2023):

 

A Festa do Pentecostes encontra a sua raiz no Antigo Testamento e remonta à história do povo de Israel: a palavra Pentecostes, do grego quinquagésimo, recorda primeiramente a “festa do pão”, festa em que os judeus ofereciam a Deus as primícias das colheitas, adquirindo o segundo significado de “festa da Lei”, ação de graças pela chegada ao Monte Sinai, lugar onde Moisés recebeu a inspiração de Deus para gravar as Tábuas da Lei.

Para nós, cristãos, seguindo a tradição da pena/escrita de São Lucas (contrastante com Jo 20, 22), o dia de Pentecostes, término de sete semanas pascais, oitavo domingo pascal, quinquagésimo dia pós-ressurreição, celebra a efusão do Espírito Santo no coração dos discípulos do Senhor.

Manifestando-se com a força do vento e com a luz e o calor das línguas de fogo, encheu os primeiros discípulos, (reunidos no Cenáculo com Maria Santíssima), da sua energia e dinamismo para que, nas mais diversas línguas humanas, (ou na única entendível pelos a homens e mulheres dos mais diversos povos e culturas: a linguagem do amor), eles exprimissem as maravilhas de Deus.

Assim, o prometido do Senhor, o Paráclito, há-de impelir os discípulos a deixarem Jerusalém (cf. Lc 24, 49) e a irem pelo mundo testemunhar Jesus Cristo e a sua Boa-Nova (Mc 16, 15; At 1, 8).

Cheios de alento, sabedoria, fortaleza, temor a Deus e piedade, os discípulos missionários (Igreja em Missão) partiram pela Judeia e Samaria até aos confins da terra, proclamando e testemunhando em palavras e obras a misericórdia do Senhor, empossados por Cristo a levarem o perdão e a paz de Deus e a operarem curas, fazendo o Reino de Deus cada vez mais palpável e próximo de toda a criatura.

E, tal como outrora aos discípulos do Senhor, também pelo Batismo e Confirmação, o primeiro dom de Deus para nós, o Amor - dom esse que contém todos os outros - «derramou-o Deus nos nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom 5, 5) para que desde as nossas entranhas aprendamos a amar como Ele nos amou (cf. 1 Jo 4, 11-12) em seu Filho Jesus Cristo e a rezar e clamar, instantemente no nosso coração, Ab, Abeba: Pai, Paizinho (Gl 4, 6; Rm 8, 15).

Ele, Espírito de Deus, é a alma da Igreja e o garante da força e eficácia dos sacramentos: santifica o povo de Deus e todas as coisas, fecunda as águas do batismo, faz do batizado filho adotivo de Deus-Pai, ilumina os caminhos da fé revestindo os cristãos da força e sabedoria divinas para serem testemunhas de Cristo, realiza a transubstanciação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo, apaga a mancha do pecado, cura as enfermidades da alma e do corpo, consagra os bispos e sacerdotes fazendo-os participar do sacerdócio ministerial de Cristo, edifica a Igreja fazendo de nós templo de Deus (1Cor 3, 16) e comunica-nos o modo de amar como Deus ama.

Aprendendo a amar os nossos irmãos como Deus nos amou primeiro a nós e a amar o Pai como o seu Filho Jesus Cristo amou, o Espírito Santo faz a nossa vida dar frutos: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, vida (cf. Gl 5, 22-23).

Esses frutos, colhidos quando cultivado o amor a Deus e o amor fraterno, farão com que os homens nos conheçam como discípulos do Senhor: se nos amarmos uns aos outros Deus permanece em nós o seu amor é perfeito (cf. 1 Jo 4 12-21).

Quer isto dizer que, praticando o amor uns pelos outros, nos tornamos cada dia templos do Espírito Santo, o perfeito Amor de Deus que vem fazer em nós sua morada e por nós vem transformar o mundo.

Que podemos nós, devotos-adoradores do Senhor Divino Espírito Santo, que aqui nos reunimos festivamente para o celebrar, desejar, senão que Ele venha habitar em nós e fazer em nós Sua morada? Que pode o Senhor Divino Espírito Santo mais desejar de nós do que fazer-nos filhos de Deus? Filhos que amam o Pai e se amam mutuamente como verdadeiros irmãos…

Se somos devotos do Senhor Divino Espírito Santo peçamos-lhe com o fervor da fé:

Oh, Espírito Santo, Alma da minha alma, eu Te adoro. Ilumina-me, guia-me, fortalece-me, consola-me. Estabelece a minha alma na verdade. [...] A Ti, que procedes do Pai e do Filho, consagro este dia, oh divino Paráclito, [...] Hoje, desejo viver na tua presença, atento(a) às tuas inspirações, e obediente à tua voz. Oh, Espírito Santo, vem até à minha vida por Maria, renova-me, vivifica-me, santifica-me!. (cf. Card. Robert Sarah) Oh, Divino Consolador, ensina-me a amar o Pai com a perfeição do amor com que o seu Filho Jesus Cristo o amou e continua a amar na eternidade do Céu! Oh, desejadíssimo inspirador, faz que eu ame cada meu irmão e irmã como o Senhor Jesus me amou a mim! E no fim da minha peregrinação terrena, celeste Defensor, conduz a minha alma à glória do Céu onde habitas com o Pai e o Filho pelos séculos sem fim. Ámen.

 

Ainda que merecedor da mesma adoração e glória que as outras duas pessoas da Trindade - «com o Pai e o Filho é adorado e glorificado», segundo as palavras do Credo - «Ele é Aquele que, na Trindade, procede por meio do amor e não da inteligência, e aquilo que resulta do amor não é tão fácil de exprimir por meio de palavras e conceitos como o que resulta da inteligência». Por isso, e ainda que se encontrem referências ao Espírito Santo a cada passo da liturgia e da catequese, «o Espírito Santo continua a ser o grande desconhecido no Ocidente».

(citações de: Card. Robert Sarah, Catecismo da Vida Espiritual)




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