Juntamente com Jesus e a Virgem Maria, João é o único santo do qual a liturgia da Igreja celebra também o seu nascimento para o mundo. Além de celebrar a 29 de agosto o Martírio (seu nascimento para o céu), celebra também a (23/)24 de junho o seu nascimento para a vida (terrena) de testemunha da Luz entre os homens (cf. Jo 1, 8).
A 8 de
setembro, nove meses depois de celebrar a sua imaculada conceição, a Igreja
celebra o nascimento da Virgem Maria.
Com o solstício
de inverno a Igreja celebra Jesus no seu Natal, a 25 de Dezembro, quando a luz
do dia recupera o vigor sobre as trevas da noite.
Com o
solstício de verão, num paralelismo estabelecido no Evangelho de São Lucas
entre a infância de Jesus e de João Batista, a igreja celebra o nascimento de
João.
João, cujo nome significa "Deus faz graça/misericórdia", filho
de Isabel e Zacarias, ambos de avançada idade, homem austero e rigoroso, pregador e observador coerente
da Lei de Deus, pregava a penitência, a retidão e a conversão com uma linguagem
dura e afiada como uma espada: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da
cólera que está para chegar? Produzi frutos de sincero arrependimento”… (Mt 3, 7-12)
Imagino o que me faríeis se eu começasse a pregar-vos usando a mesma linguagem com
que João pregava.
Popular nas
festividades de Junho, cheias de farra e algazarra; impopular no seu estilo e
exemplo de vida: «Porque veio João que não comia pão nem bebia vinho e dizeis: “tem
o demónio”» (Lc 7, 33). Mas continua Jesus: “Veio o Filho do homem, que come e
bebe, e dizeis: Eis aí um homem glutão e ébrio (bêbedo), amigo dos publicanos e
pecadores” (Mt 11, 19). O povo nunca está contente, como é difícil agradar o
povo, impossível…
Voz que clamava
no deserto (cf. Jo 1, 23) (a de João) as injustiças e os pecados do povo, sem
temer a tirania, os julgamentos e a malícia dos que o escutavam, mesmo os mais
poderosos, dava mais importância e urgência à missão que lhe fora destinada por
Deus desde o ventre de sua mãe (Is 49, 1): preparar os caminhos do Senhor (cf. Mt 3, 3).
Elogiado por
Jesus, que o considerou o maior dos profetas (cf. Lc 7, 28), levou o império
dessa missão até às últimas consequências: dar testemunho da vontade de Deus e
denunciar o pecado do povo até derramar o seu sangue ao ser decapitado pela
ordem de Herodes Antipas que, estando em pecado preferiu manter-se nele e
agravar as suas culpas, dando a degolar o Santo para satisfazer os caprichos da
adultera mulher com quem se casou em incesto e que pediu a cabeça do Batista
numa bandeja (cf. Mc 6.14-29; Lc 9.7-9).
Sem nunca
ter comido pimentos, sardinhas ou fêveras, a escritura diz-nos que se
alimentava de gafanhotos e mel silvestre (cf Mc. 1,6), jejuava com frequência
(não para estar nas modas das dietas mas para fazer penitência). Mas o cúmulo é
que para festejar São João Batista pouco nos importe conhecer a sua história,
seguir os seus ensinamentos ou converter as nossas vidas a Deus. Ainda mais se
adensa a esquizofrenia dos nossos festejos quando, para festejarmos o santo que
foi decapitado, alegremente martelemos as cabeças uns aos outros.
Que São João Batista
nos ajude a converter as nossas vidas à vontade de Deus para merecermos com ele
a mesma eterna recompensa.
Pe. João Miguel Pereira
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