2ªfeira, IV semana da Quaresma (Ano B)

 

Recordemos a leitura do Segundo Livro da Crónicas, escutada por nós no dia de ontem, IV domingo da Quaresma. Ela dava-nos conta como devido à infidelidade do Povo de Deus, à adoção de costumes pecaminosos pagãos, à profanação do Templo e ao desprezo das palavras dos profetas, Deus se indignou e permitiu, em 587/6 a.C., a invasão dos caldeus que «incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém, lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objetos preciosos» e como «o rei dos caldeus [leia-se: Nabucodonosor II] deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada» fazendo-os «escravos» durante cerca de simbólicos 70 anos [cerca de 59, historicamente, quando contados desde a primeira deportação 598/7 a.C. até à derrota dos babilónicos em 539 a.C.].

A primeira leitura que hoje escutamos, do capítulo 65 do livro de Isaías, retrata o momento após esse Exílio na Babilónia, isto é, após Ciro II, rei da Pérsia, vencer os caldeus e, inspirado pelo Senhor, permitir o regresso do Povo Judeu à terra de Canaã.

O Povo de Deus, regressado à sua terra, ouve da parte de Deus -- pela boca de Isaías -- a promessa de que vai «criar um novo céu e uma nova terra», «uma Jerusalém cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo», onde «não se ouvirão nela choros nem lamentos».

Esta é a mensagem de Deus que quer esquecer o passado de pecado daquele Povo, marcado pela idolatria, imoralidade, mentira, crimes, egoísmo, exploração e opressão dos mais débeis.

Esta é a mensagem que Deus quer dirigir a cada um de nós que, neste tempo da quaresma, reconhecemos e confessamos os nossos pecados e convertemos as nossas vidas, ouvindo a Palavra de Deus e obedecendo-lhe, observando o direito e praticando a justiça.

Caríssimos irmãos, esta Palavra de Deus que tem o poder de perdoar e curar… de fazer novas todas as coisas… é o próprio Senhor Jesus, Palavra de Deus feita carne no seio virginal de Maria Santíssima -- por vós carinhosa e devotamente invocada como Nossa Senhora da Veiga.

Reparai que, no evangelho que hoje escutamos, Jesus admite que um profeta não é «estimado» e valorizado na sua terra. No evangelho segundo São Lucas, o Senhor Jesus afirma «nenhum profeta é bem recebido em sua própria terra». E infelizmente muitas vezes, nós, sua igreja, a terra onde é lançada a semente do Evangelho, essa Palavra que é Jesus, não lhe damos grande importância.

Irmãs e irmãos, vós que vos dirigis a Nossa Senhora da Veiga, escutai estas doces palavras que nos veem da sua boca, nas bodas de Caná como agora: «fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo 2, 5).

Ele, Jesus, pode renovar-nos e curar-nos!... como curou o filho daquele funcionário real de que nos fala o evangelho. Precisaremos de ver sinais extraordinários e prodígios para acreditarmos? Ou acreditaremos nas Palavras de Jesus, mesmo que que ainda não nos seja permitido ver com os olhos a salvação que Ele nos promete.

Maria -- Nossa Senhora da Veiga -- ouviu o anúncio do anjo Gabriel, confiou na Palavra de Deus, dispôs-se a servi-lo, e pôs-se apressadamente a caminho. O funcionário real ouviu Jesus, acreditou -- ainda que de modo imperfeito, mas acolheu a sua Palavra -- e pôs-se a caminho. Porque acreditaram, Deus fez maravilhas nas suas vidas. Se acreditarmos Deus fará maravilhas nas nossas vidas.

Neste tempo da quaresma confiemos que não importa o passado que temos, por mais feio ou doloroso que possa ser: importa o presente, acreditar em Jesus e escolher a sua Palavra como nosso caminho!

Que a Palavra de Deus seja por nós acolhida, guardada, rezada e meditada tal como o foi por Nossa Senhora e tal como o foi pelo funcionário real do evangelho que a liturgia deste dia nos serviu.

Que pela nossa fé Deus possa «criar um novo céu e uma nova terra», uma igreja, sinal da eternidade, «cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo», onde se vive a esperança e a confiança na salvação de Deus.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo: para sempre seja louvado no céu e na terra com sua mãe Maria Santíssima.


Pe. João Miguel Pereira | 2ªfeira, IV semana da Quaresma (Ano B)




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