A Virgem Maria e o Espírito Santo

 

Depois da morte e ressurreição de Jesus, a comunidade dos Apóstolos entregava-se assiduamente à oração e Maria permanecia com eles (Act 1, 14; CIC 726). Maria aguardava e suplicava com Eles o envio do “Prometido do Pai”, o Espírito Santo, força que, segundo a palavra de Jesus, havia de descer sobre Eles fazendo-os testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.

Maria estava, portanto, unida aos Apóstolos. Maria estava no Cenáculo naquele dia de Pentecostes quando «apareceram umas línguas, à maneira de fogo, que iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles» (Act 2, 3). E todos ficaram cheios do Espírito Santo.

Não é, portanto, descabido que neste dia, em que celebramos o Espírito Santo, nesta quadra festiva de Pentecostes, celebremos e meditemos na íntima e fecunda relação de Maria com o Espírito Santo. Nesta paróquia que todos os anos festeja o Divino Espírito Santo não podemos negligenciar a nossa padroeira, Nossa Senhora com o título de Nossa Senhora do Pranto. A união entre Maria e Espírito Santo é tão profunda que não me parece abusivo dizer que quem ama o Espírito Santo, ama Maria; e quem ama Maria, ama o Espírito Santo.

«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher» (Gal 4, 4). No Credo, unidos na profissão da mesma fé, dizemos: «Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus; e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e Se fez homem». Em Maria, pela obra do Espírito Santo, o «Verbo fez-Se carne para nos salvar; reconciliando-nos com Deus» (CIC 457).

Recuemos, desde logo, ao relato da Anunciação. Seguindo o Evangelho de São Lucas, verificamos que, quando Deus quis realizar a obra da nossa redenção, para a qual enviou o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, escolheu Maria, cheia de graça, para no seu seio O gerar e dela O fazer nascer. Quando Maria inquiriu o anjo sobre como isso poderia acontecer, o anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti». Maria, confiando nas palavras do anjo como Palavra de Deus não levantou mais questões: confiou e entregou-se em obediência de fé, fazendo-se «serva do Senhor» e «esposa do Espírito Santo».

É o Espírito Santo, «Senhor que dá a Vida», quem fecunda o seio virginal de Maria para que se iniciasse a obra desejada pelo Pai, a realizar pelo Filho, em vista da nossa salvação. «Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus» (CIC 723). Maria entrega-se a Deus e Deus enche-a do seu Espírito. Maria é a cheia do Espírito.

Depois de se saber grávida pela obra do Espírito Santo, muito embora não compreendesse totalmente o que isso significava, tendo Maria sabido que sua prima Isabel se encontrara também grávida, «pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo» (Lc 1, 39-41). Cheia do Espírito Santo, Isabel reconhece e bendiz a eleição e a missão de Maria e o «fruto do seu ventre». Maria, a cheia do Espírito Santo, pelo seu exemplo contagia com o Espírito Santo aqueles que a recebem. E, «por Maria, o Espírito [Santo] começa a pôr em comunhão com Cristo os homens que são “objeto do amor benevolente de Deus”; e os humildes são sempre os primeiros a recebê-Lo”» (CIC 725). Maria leva Jesus até Isabel e o Espírito Santo leva Isabel ao reconhecimento de Jesus. Maria traz Jesus até nós e o Espírito Santo leva-nos a nós até Jesus.

Em toda a sua vida, o Espírito Santo acompanhou e inspirou Maria, a quem desposou. Maria é por isso figura perfeita da Igreja. Ela coloca-se sempre ao serviço dos desígnios de Deus, conservar-se obediente e fiel à vontade de Deus, é irrepreensível no seu exemplo de santidade, permanece unida a seu Filho desde a conceção virginal de Cristo até à sua Paixão e Morte e é testemunha da fé. «Pela sua plena adesão à vontade do Pai, à obra redentora do Filho e a todas as moções do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade» (CIC 967). E, quando dada por Jesus Cristo, no alto da Cruz, ao discípulo amado, ela torna-se mãe para a Igreja.

Como Maria foi fecundada pelo Espírito Santo, para, por Ela, o Filho de Deus entrar no mundo e ser dado aos homens, também a Igreja, fecundada e cheia do Espírito Santo, tem de levar Cristo aos homens e os homens a Cristo.

Que a Virgem Maria, a cheia de graça, interceda conosco, como o fez com os Apóstolos no dia de Pentecostes.

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da terra.

 



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