Na tarde do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as comunidades a que sirvo passaram e continuam a passar por grande aflição devido aos incêndios que estão a devorar a nossa floresta e praticamente todas as plantações agrícolas e prados de pastoreio que são, muitas das vezes, a única forma de sustento de grande parte das famílias.
Tenho procurado estar em contacto com todas as comunidades. Vi-me impedido de celebrar missa em todas as paróquias, das 5 previstas apenas pude celebrar 2. Por telefone, nos grupos de WhatsApp paroquiais e por mensagem de texto as notícias que me devolvem são desoladoras. Todas as minhas paróquias estiveram ou ainda estão rodeadas pelas chamas. Alguns casos, completamente isoladas. As estradas estão cortadas por precaução ou porque rodeadas pelas labaredas que são enormes.
Na tarde de hoje a paróquia onde resido esteve debaixo da força do fogo atiçado pelo vento forte. As chamas consumiram quase tudo o que de verde havia. Olivais, soutos, pomares, vinhas, amendoais, hortas… e a floresta… tudo reduzido a cinzas. Muitas casas foram “lambidas” pelo fogo, que as rodeou e em alguns casos danificou.
A Igreja, casa de Deus entre os homens, casa dos homens filhos de Deus, serviu como lugar de recolhimento e reunião. Primeiro o povo reuniu-se para se organizar para proteger a aldeia. Depois, muitos dos mais idosos e crianças foram nela reunidos pelos familiares e autoridades, pois não sabíamos até quando a força do povo aguentaria a fúria das chamas. Sim, o povo. O povo foi quem se mobilizou e defendeu a aldeia, o melhor que pode e, com a graça de Deus, com êxito. Obrigado a todos populares que se arriscaram para nos defender. Os bombeiros mais tarde apareceram… e ainda muito ajudaram, muito tendo em conta o seu cansaço físico e os poucos meios disponíveis. Como me doeu ver tantos em lágrimas (crianças, jovens e adultos) por verem o fogo rodear as suas casas e cultivos. Neste momento não temos eletricidade, as comunicações estão deficientes, a água falhou porque foi necessária para combater o fogo, a rua está cheia de fumo e veem-se alguns reacendimentos. Mas, felizmente, pela graça de Deus que nos chegou pela mão de Nossa Senhora do Campo e de tantos populares que nos protegeram, estamos a salvo.
As minhas paróquias de Fonte Longa e Poço do Canto estão esta hora em chamas. Estou preocupado e com todos no pensamento e no coração.
A todos os emigrantes e amigos que me ligaram ou enviaram mensagem, agradeço a vossa preocupação, compaixão e oração.
A nossa Diocese de Lamego, por meio da Vigararia, também manifestou a sua proximidade, preocupação e oração.
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