XIX Domingo do Tempo Comum, Ano C
1 – Jesus inicia o Evangelho deste domingo com palavras de
alento: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o
Reino».
- Os discípulos de Jesus sabem que são poucos e fracos diante
de um mundo hostil;
- A comunidade fiel dos discípulos de Jesus nunca foi uma
multidão, mesmo no tempo das igrejas cheias;
- O importante não é a quantidade mas a qualidade dos
discípulos. O importante é que os discípulos permaneçam fiéis a Jesus e com
esperança (esperando, e vivendo alimentados pela esperança do cumprimento das
suas promessas e do seu regresso);
- Uma certeza Jesus nos deixa: O Reino de Deus virá porque
não é obra da mão do homem, não está dependente da nossa força, virá pelo poder
de Deus.
2 – Ficou suspensa no ar, vinda do texto do Evangelho do
passado fim de semana, uma questão:
- Como se enriquece aos olhos de Deus?
- O texto que o Evangelho hoje nos apresenta segue quase de
imediato aquele. Fica apenas interrompido por um conjunto de ensinamentos de
Jesus sobre a confiança na providência divina. Por exemplo, quando Jesus diz:
«Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros;
contudo, Deus os alimenta. Quanto mais não valeis vós que as aves!» ou ainda
«Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu vos digo: Nem
Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a
erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós,
homens de pouca fé!»
3 – Voltemos então à questão: Como se enriquece aos olhos de
Deus?
- Aquele homem rico e avarento, sobre quem falava Jesus no
domingo passado, acumulou muitos bens neste mundo, mas teve de os deixar todos
para trás quando morreu;
- Além disso, nunca conseguiu viver de forma verdadeiramente
tranquila e feliz: vivia atormentado com as preocupações deste mundo, em obter
colheitas abundantes, em enriquecer, em acumular, em descobrir onde acumular… nem de noite a sua alma podia
descansar.
4 – No Antigo Testamento a Palavra de Deus dá-nos um belo
ensinamento: «Dá esmola, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre
o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus. Filho, procede conforme
as tuas posses: se possuis muita riqueza, dá esmola em proporção da mesma; se,
porém, dispuseres de pouco, dá em proporção desse pouco. Nunca tenhas receio de
dar esmola. Assim, acumularás em teu favor, um bom depósito para o dia da
necessidade. De facto, a esmola liberta da morte e não permite que a alma desça
para as trevas. A esmola é, aos olhos do Altíssimo, uma dádiva sagrada de
grande valor, que aproveita a todos os que a oferecem» (Tb 4, 7-11; Cf. Sir. 3,
29 - 4, 10; 29, 8-13)
5 – Quem acumula bens para si próprio, diz Jesus, acaba por
os ver consumidos pela traça ou perderem-se estupidamente ao longo do caminho,
caídos de sacos rasgados. É muito melhor dá-los a um bom banqueiro, seguro de
que ele os restituirá com juros lucrativos. Esse bom banqueiro é Deus.
6 – Assim pensava também Monobaz II, filho da rainha Helena
de Adiabene, que se converteu com sua mãe ao judaísmo por volta de 50 d.C.
Respondia aos que o acusavam de esbanjar os bens com os necessitados de Israel:
«Os meus antepassados acumularam tesouros cá em baixo, eu, pelo contrário,
acumulo tesouros lá para cima. Eles acumularam tesouros neste mundo, eu, pelo
contrário, para o mundo que virá».
7 – O texto do Evangelho que ouvimos hoje sugere-nos uma
segunda pergunta: Como não ser apanhados de surpresa pela vinda do Senhor?
- Todas as parábolas que Jesus conta chegam a uma conclusão
muito idêntica: «Felizes os servos que o Senhor ao chegar encontrar
vigilantes».
- Estar vigilante significa estar constantemente disponível e
preparado para servir à vontade de Deus. Essa disponibilidade para fazer a
vontade de Deus não deve encontrar qualquer tipo de interrupção ou distração.
Sempre com os rins cingidos e as lâmpadas acesas, para que quando o Senhor vier
nos encontre ocupados mas apenas em fazer o que lhe agrada. Servir
generosamente o bem e os irmãos é a melhor forma de nos mantermos vigilantes e
atentos para a chegada do Senhor.
(Por Padre João Miguel Pereira, a partir de «O Banquete da Palavra» de Fernando Armelli)
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