4 de Setembro – Lecionário para a Missa 38 “A VIRGEM MARIA, MÃE DA UNIDADE”
Sto. Afonso Maria
de Ligório dizia: «Como é bom, às portas da eternidade, poder pensar que fiz
alguma coisa para semear nos corações a devoção a Maria!» Isto porque, diz o mesmo santo, logo
na Introdução do seu Livro sobre As Glórias de Maria, inspirando-se em S.
Boaventura, que muita ventura está prometida aos que cantarem os louvores de
Maria e que têm o paraíso seguro todos os que anunciam as suas glórias.
A Bem-Aventurada e
Sempre Virgem Maria, Predileta Filha (segundo o espírito[1])
e Ditosa Mãe (segundo a carne) do Verbo de Deus encarnado,
[“Virgem Mãe do mesmo
Deus, / Virgem filha de teu Filho”, “Mãe de Deus e de Deus filha, / Mãe do Céu”,
assim a canta o seu Povo devoto],
foi preservada por
Deus, desde o momento em que foi concebida, de toda a mancha do pecado original[2]. Em ordem aos méritos futuros a
alcançar pelo seu Filho, Deus preparou-lhe uma Mãe da qual Ele encarnaria e na
feliz plenitude dos tempos nasceria. Essa Mãe, humana criatura, mereceu de Deus
a mais singular benevolência e amor. Por isto, Deus cumulou-a
admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância
de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade, adornando a
Gloriosa Virgem dos fulgores da santidade mais perfeita. São Luiz Maria de
Montfort escreveu: “Deus Pai reuniu todas as águas e deu-lhe o nome de mar; reuniu
todas as suas graças e chamou-as Maria. Esse grande Deus tem um tesouro ou um
celeiro muito rico, onde encerrou tudo o que há de belo, brilhante, raro,
precioso, incluindo o próprio Filho. Esse tesouro imenso é Maria, que os santos
chamam o tesouro do Senhor”…
«No seio da Virgem
Mãe / Incarnou Divina Graça / Entrou e saiu por ela / Como o sol pela vidraça».
Aquela que Deus escolheu para nela gerar o seu Filho não viu de modo algum
diminuída, mas antes consagrada a sua integridade virginal. A sua
virgindade é sinal da sua entrega total à missão que Deus lhe confiou - a de
ser a Mãe do seu Filho - bem como ao seu compromisso firme e colaboração total na
obra de seu Filho, em favor da redenção da humanidade.
Do mesmo modo, aquela
que fora preservada por Deus de toda a mancha do pecado, que viu conservada a
sua virgindade mesmo mediante a sua maternidade, foi também preservada de toda
a corrupção da carne[3].
“A Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida
terrestre, foi assumida (assumpta est), de corpo e alma, na glória celeste”.
Assim, sua alma imaculada e de seu corpo virginal receberam a perfeita
configuração com Cristo ressuscitado. Maria “é a aurora e a imagem da Igreja
triunfante”, assim como “sinal de consolação e esperança” para a Igreja
peregrinante.
Nossa Senhora é
também mãe da unidade. Escutamos hoje as Leituras propostas pelo Lecionário das
missas da Santíssima Virgem sob o título “a Virgem Maria, Mãe da Unidade”. Da glória celeste onde Maria já está,
para lá a todos nos atrai, para nos reunir em torno do nosso Criador. Mas
também na sua vida terrena, a Santíssima Virgem Maria foi fonte de unidade
para o povo de Deus. Foi por ela que Jesus Cristo veio ao mundo «para congregar
na unidade todos os filhos de Deus que andavam disperso» (Jo 11, 45-56).
No ventre de Maria
uniram-se as naturezas humana e divina. Em Maria, pela obra do Espírito Santo, o «Verbo fez-Se
carne para nos salvar; reconciliando-nos com Deus» (CIC 457), unindo-nos
de novo com o nosso Criador. A
vida de Maria permaneceu unida indissoluvelmente à obra e missão do seu Filho.
No momento da Paixão, quando todos se dispersaram, ela permaneceu unida a
Jesus na Cruz. Depois da morte e ressurreição de Jesus, a comunidade dos
Apóstolos entregava-se assiduamente à oração e Maria permanecia unida com eles (Act
1, 14; CIC 726). Quando Jesus enviou o Espírito Santo, Maria estava unida à
Igreja primitiva e, junto com os Apóstolos, recebeu o “Espírito da concórdia e
da unidade, da paz e do perdão”. Ao longo dos tempos muitos foram reunidos por
Maria ao rebanho do Senhor e quando hoje nos reunimos aqui, por causa de
Nossa Senhora do Pilar, unimos as nossas vozes para louvar o nosso Deus. Venerando
Maria, a mãe do Salvador, na Liturgia, a Igreja celebra o mistério de Cristo,
porque a Virgem Maria está sempre unida ao seu Filho. Por isso, “Exultai e
alegrai-vos, ó Virgem Maria! Por vós se reunirão todos os filhos de Deus, para
bendizer o Senhor do universo”. Todas as festas de Maria são festas de
Cristo e nascem da Páscoa: celebrar Maria é celebrar Jesus Cristo. Celebramos
Maria por causa da sua íntima participação na história da salvação, através da
sua participação ativa nos mistérios da vida de Cristo. Celebramos Maria
porque nela descobrimos um coração materno que abraça e reúne todos os irmãos
de seu Filho. Como ensina o Concílio Vaticano II, «Maria, que entrou
intimamente na história da salvação […] ao ser exaltada e venerada, atrai os
fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai» (LG 65).
Clama jubilosamente, filha de Sião
Exulta, rejubila de todo o coração,
filha de Jerusalém
Por ti se reúnem em torno do Senhor
Os filhos dispersos do Deus
Altíssimo.
Virgem gloriosa, Senhora do Pilar,
Que animastes o Apóstolo Tiago
A reunir por todo lado
O povo que já foi resgatado
Pelo precioso Sangue do Salvador.
Por causa de ti, enche-se de jubilo
O teu Filho e Senhor nosso
Pois é por mérito vosso
Que também hoje reconduzidos somos
À unidade do Povo de Deus.
[1] Distinção de St. Agostinho em De le saint virginité, a
partir do Group des Dombes, p.27.
[2] Concílio de Basileia (1431-1449): «Nós definimos e
declaramos que a doutrina segundo a qual a gloriosa Virgem Maria, Mâe de Deus,
por um efeito especial da graça divina atenciosa e operante, nunca foi
conspurcada pelo pecado original, mas sempre foi santa e imaculada, é uma
doutrina piedosa, conforme ao culto da Igreja, à fé católica, à justa razão e à
santa Escritura; que deve ser aprovada, conservada e professada por todos os
católicos» (GD,p.39).
[3] S. João Damasceno (+ à volta de 749): “Como poderia a
corrupção penetrar neste corpo que recebera a Vida?”
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