Dia 7 de Setembro | Missa do XXIII Domingo do Tempo Comum do ano C | Canonização em Roma de Carlos Acutis e Pier Giorgio Frassati
Meditávamos ontem,
de forma vespertina, na Primeira Leitura proposta pelo esquema da Liturgia da
Palavra para este XXIII Domingo do Tempo Comum. Hoje escutamos as mesmas leituras que
por nós, ontem, foram escutadas. Mas, tal como ontem vos preveni, e para não
vos ser demasiado pesado, irei hoje meditar convosco principalmente no
Evangelho proclamado fazendo uma alusão, mesmo que muito breve, também à
Segunda Leitura retirada da Carta de São Paulo a Filémon.
Na segunda
leitura, Paulo fala-nos de dois grandes valores: o perdão e a fraternidade. Onésimo, um escravo de Filémon,
fugiu de casa do seu senhor. Por causa disso, Onésimo corria o risco de ser
preso, devolvido ao seu senhor e severamente castigado. Sem pormenores, sabemos
que Onésimo se cruzou com Paulo, quando este estava na prisão, e Paulo
acolheu-o e catequizou-o. Então Paulo enviou-o àquele que fora o seu senhor,
mas com uma carta escrita pelo seu punho pedindo-lhe para que recebesse
Onésimo, perdoando-lhe a sua fuga e recebendo-o já não como escravo, mas agora
como um irmão. Foram essas palavras escritas por Paulo a Filémon que
escutamos.
Leva-nos o texto do
Evangelho hoje proclamado a encontrar Jesus no caminho entre a Galileia e
Jerusalém rodeado dos discípulos e muitas vezes de uma multidão numerosa. Alguns,
entusiasmados com a sua pregação sobre o Reino de Deus e com os seus gestos
poderosos, querem segui-l’O e integrar o seu grupo. 
«Jesus quer
assegurar que esses candidatos a discípulos sabem no que se vão meter. Ele
não está interessado em gente que adere por um impulso momentâneo de
entusiasmo, mas que depois não tem a força e a persistência necessárias para
levar até ao fim o desafio do Reino de Deus.
Para evitar
mal-entendidos, Jesus indica um conjunto de condições que são necessárias para
O seguir. São condições bastante duras, plenas de radicalidade, pois o caminho
do Reino é um caminho exigente. Jesus em nenhum momento “vende” otimismos fáceis ou suaviza
as suas exigências. Ele não está preocupado com o número dos que O seguem; mas
quer que todos os que decidem ser seus discípulos tenham, desde o início, as
coisas bem claras».
Jesus elenca três
exigências fundamentais que devem ser tidas em conta por todos aqueles que se propõem seguir o
“caminho do discípulo”. Todas elas implicam a renúncia a alguma coisa, a fim
de centrar a própria vida em Jesus e na sua proposta do Reino de Deus.
A primeira pede a
renúncia à própria família (vers. 26). O seguimento de Jesus implicaria deixar em segundo plano
todas as relações familiares, inclusive as mais queridas. Num contexto onde
as relações familiares implicavam laços muito fortes, deixar a família em
segundo lugar implicaria uma grande renúncia. Pode também significar que, naqueles
casos em que a família se oporia à adesão de um dos seus membros ao projeto do
Reino, seria necessário romper radicalmente com a família para
seguir Jesus.
A segunda pede a
renúncia a si próprio
(vers. 27). Também neste caso a expressão usada por Jesus é extremamente forte:
“quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. O
que é que significa “tomar a cruz”? A cruz sintetiza toda a vida de Jesus.
Desde o momento em que veio ao encontro dos homens, Jesus fez da sua vida um
dom de amor. Viveu para cumprir o projeto do Pai, dando-se por
amor em favor de todos, especialmente dos últimos, dos mais humildes e
desprezados. Esse caminho levou-O ao confronto com as autoridades judaicas
e, portanto, à cruz. E foi precisamente na cruz que Ele realizou o dom total
de si próprio, a sua entrega até ao extremo. 
A terceira pede a
renúncia aos bens materiais (vers. 33). Jesus diz: “quem de entre vós não renunciar a todos os
seus bens, não pode ser meu discípulo”. Ele tem razão: quando a
obsessão dos bens materiais toma conta do coração do homem, este torna-se
escravo do “ter” e desliga-se de tudo o resto; o amor, a partilha, a
fraternidade passam a ser palavras sem qualquer significado; os bens materiais
tornam-se o valor supremo, subalternizando todos os outros valores; a preocupação
fundamental do homem passa a ser acumular mais e mais (como o homem
avarento que de que nos falava Jesus há três domingos atrás, no XX
Domingo); a vida do homem passa a construir-se à volta de uma lógica que não é
a lógica do Reino de Deus. “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma
agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18,25) – dirá Jesus noutra
ocasião.
As exigências que
Jesus põe não são negociáveis. Suavizá-las seria pôr em risco o projeto do
Reino de Deus. Exigem decisões fortes, compromissos firmes, passos ousados. Por
isso, os candidatos a integrar a comunidade dos discípulos, antes de se
comprometerem, devem pensar bem se são capazes de percorrer tal caminho. 
Para deixar isto bem
claro, Jesus recorre a duas pequenas parábolas. A primeira conta a
história de um homem que quis construir uma torre sem calcular os gastos
necessários, mas depressa constatou que não tinha dinheiro para concluir a obra
(vers. 28-30). A segunda refere-se a um rei que partiu para a guerra contra
outro rei sem calcular se conseguiria, com forças inferiores, opor-se ao
adversário que vinha contra ela com um exército mais numeroso (vers.
31-32). 
O homem que desiste
de construir a sua torre depois de ter lançado os alicerces e o rei que desiste
do combate antes de avistar as tropas inimigas, fazem figuras deploráveis.
Quem começa a percorrer o caminho do Reino mas desiste após as primeiras
dificuldades, deixa uma má imagem de si próprio e defrauda as expetativas de
todos os que testemunharam a sua opção.
Maria, Nossa
Senhora do Pilar, soube bem preferir a Deus antes da sua própria vida, preferir
a Deus antes da sua própria família e renunciar aos bens do mundo para se
entregar totalmente à vontade de Deus e para seguir o seu Filho como a primeira
discípula. Maria,
Nossa Senhora do Pilar, quando responde a Deus, por intermédio do anjo Gabriel,
“Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua vontade”, bem sabia que
tinha de renunciar à sua própria vontade, expeto à vontade de fazer a vontade
de Deus. Bem sabia que renunciava a uma família comum para fazer parte de uma
família segundo um peculiar desígnio de Deus. Bem sabia que renunciava às
riquezas do mundo por amor ao tesouro do Céu. 
«Eis a resposta
mais bela, mais humilde e mais prudente, que nem toda a sabedoria dos homens e
dos anjos junta poderia inventar» e que alegrou o céu e trouxe à terra um
mar imenso de graças e de bens, diz Sto. Afonso Maria de Ligório.
É preciso, com as escrituras,
venerar, ou seja, amar, respeitar, honrar Nossa Senhora e, através dela, louvar
a Deus, «porque todas as gerações» tem por obrigação dizer «bem-aventurada».
Ofereçamos-lhe a
nossa vida, consagremos-lhe o coração, honremo-la com o nosso proceder,
saudemo-la com os nossos lábios, levemo-la como nossa companhia sempre presente
no nosso pensamento.
E prostremo-nos de joelhos a seus pés, suplicando-lhe com confiança pelas
nossas doenças e pelos nossos doentes, suplicando-lhe pelos nossos idosos,
pelos nossos imigrantes, pelas nossas crianças e jovens, pelas famílias
desavindas, pelos desempregados, pelos trabalhadores explorados, pelos
abandonados e desamparados, pelos mal orientados, pelas gentes desta terra,
pelos seus filhos em Portugal e no mundo inteiro.
Aprendamos a
seguir o exemplo de Maria, também na sua perseverança e confiança que a leva à
sua entrega total a Deus!
Seguindo o exemplo
dos dois jovens Carlos Acutis e Pier Giorgio Frassati, hoje canonizados pelo
Papa Leão XIV na cidade de Roma, amemos Jesus e Maria. Como eles, cultivemos a
prática da Adoração Eucarística e da oração do Terço. Como eles aprendamos a
encontrar na Eucaristia a nossa “Estrada para o Céu” e o “Pão dos Anjos” que
nos fortalece para as lutas interiores. Como Eles passemos a amar a Deus também
por meio da caridade e serviço aos pobres e aos doentes.  
Nossa Senhora do
Pilar, nossa Mãe e Rainha de Misericórdia, acolhe as preces deste vosso povo,
destes vossos filhos. Leva os nossos pedidos à presença do vosso e nosso Deus.
Bem sabemos que com a vossa proteção, com a força da vossa intercessão, nada
nos faltará do que nas nossas orações suplicamos. «Oh! Como se é poderoso e
forte junto de Jesus Cristo quando se está armado dos méritos e da intercessão
de uma digna Mãe de Deus, que, como diz Santo Agostinho, venceu amorosamente o
Todo Poderoso!» (S. Luís Maria de Monfort, p.107).

Comentários
Enviar um comentário